Residência em Pediatria de três anos permite melhor qualificação dos especialistas

As provas para obtenção do Título de Especialista em Pediatria Seriado (TEP Seriado) realizadas neste ano tiveram um alto índice de aprovação, com 338 candidatos aprovados nos três ciclos (R1, R2 e R3). Para o coordenador de pós-graduação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dr. Eduardo Jorge da Fonseca Lima, esse número demonstra que o aumento da duração dos Programas de Residência Médica para três anos permite melhor qualificação técnica na formação dos jovens pediatras.

“A qualificação profissional e a formação de novos pediatras são pilares da instituição. Acreditamos que o apoio da SBP aos Programas de Residência Médica contribuirá de forma incisiva na melhoria da formação, consequentemente com um impacto positivo no atendimento às crianças e adolescentes”, destacou, em entrevista ao SBP Notícias.

Dr. Eduardo adianta que a Comissão do TEP está em fase de conclusão de um estudo detalhado sobre o tema, no qual será verificado – por área – o desempenho dos residentes em cada ano, especificamente. Paralelamente, outra preocupação da banca examinadora é em relação ao nível de cobrança dos conteúdos programáticos dos candidatos ao TEP Seriado.

Dr Eduardo residência 3 anos

“Como a prova do TEP Seriado é opcional, o residente poderá optar em realizar o TEP tradicional após o término da sua formação. Acreditamos que a avaliação da residência médica deve ser fundamentalmente formativa, de modo a permitir ao residente, durante seu processo de qualificação, monitorar seus conhecimentos; identificar as áreas na quais precisa intensificar seus estudos; e, como num álbum de fotografias, ver seu desempenho ao longo dos três anos”, explicou.   O coordenador de pós-graduação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) ainda comentou sobre a atual situação do ensino médico no Brasil, com a multiplicação do número de escolas médicas sem preocupação com a qualidade desta formação, em especial com os cenários práticos para treinamento. Para ele, é preciso garantir que os conteúdos sejam efetivamente discutidos na graduação.

 

Leia a seguir a íntegra da entrevista.

SBP NOTÍCIAS – O TEP Seriado teve um excelente índice de aprovação, totalizando 338 candidatos aprovados nos ciclos R1, R2 e R3. A que se deve esse alto índice de aprovação?

Dr. Eduardo Jorge – O ótimo índice de aprovação nas provas do TEP Seriado reforça que a estratégia de aumento da duração do programa para três anos está permitindo melhor qualificação técnica na formação dos jovens pediatras. Entretanto, reforço que como ainda são poucos os Programas de Residência de Pediatria que já estão incorporado ao novo currículo e participando da prova do TEP Seriado, temos o viés de serem programas já melhores estruturados. Como a partir de 2019 todos os programas do País passarão a ter a duração de três anos, teremos na prova do TEP Seriado, que será aplicada em 2020, uma avaliação mais fidedigna de todos os programas de residência.

SBP NOTÍCIAS – Qual o impacto o aumento de médicos residentes com o TEP Seriado trará para a pediatria brasileira?

Dr. Eduardo Jorge – A qualificação profissional e a formação de novos pediatras são pilares da Sociedade Brasileira de Pediatria e têm o total apoio da nossa presidente, dra Luciana Rodrigues Silva. Acreditamos que o apoio da SBP aos Programas de Residência Médica contribuirá de forma incisiva na melhoria da formação, consequentemente com um impacto positivo no atendimento às crianças e adolescentes.

SBP NOTÍCIAS – Como está o nível de conhecimento e domínio dos conteúdos relacionados à pediatria dos candidatos ao TEP Seriado?

Dr. Eduardo Jorge – Estamos concluindo um estudo detalhado, onde verificaremos, por área de domínio, o desempenho dos residentes em cada ano especifico. De uma forma geral, já percebemos que os conteúdos relacionados à saúde mental, puericultura e adolescência precisam ser melhor trabalhado nos Programas de Residência.

SBP NOTÍCIAS – Que tipos de conhecimentos na área pediátrica a Comissão costuma cobrar dos candidatos ao TEP Seriado?

Dr. Eduardo Jorge – Na elaboração das três provas são trabalhados a complexidade crescente por ano de residência e os temas gerais, como alimentação, crescimento e desenvolvimento, imunização, saúde mental, que permeiam de forma transversal o processo de formação. Da mesma forma, a neonatologia e as diversas áreas de atuação são avaliadas de modo progressivo. O conteúdo programático das provas e as referências bibliográficas são disponibilizadas no edital do concurso.

SBP NOTÍCIAS – O senhor acredita que o nível das provas pode influenciar na quantidade de inscritos? Por quê?

Dr. Eduardo Jorge – Esta é uma das principais preocupações da banca que elabora as três provas. Como a prova do TEP Seriado é opcional, o residente poderá optar em realizar o TEP tradicional, após o término de sua formação. Acreditamos que a avaliação da residência médica deve ser fundamentalmente formativa. Ela deve permitir ao residente, durante seu processo de treinamento, monitorar seu conhecimento; identificar as áreas onde precisa intensificar o estudo e, como num álbum de fotografias, ver seu desempenho ao longo dos três anos. Infelizmente, esta conscientização precisa ser melhor trabalhada nos diversos programas e a avaliação precisa ser entendida como uma etapa essencial. Inclusive, a tentativa para que o nível de complexidade das questões do TEP Seriado esteja alinhado ao TEP tradicional tem sido um desafio que nosso grupo vem discutindo de forma sistemática.

SBP NOTÍCIAS – O que é preciso para que o número de inscritos ao TEP Seriado aumente a cada ano?

Dr. Eduardo Jorge – Como já comentei, a partir de 2020 precisamos nos preparar com a estimativa de 1.200 residentes anuais fazendo as provas do TEP Seriado. Isso permitirá uma avaliação muito relevante das residências de pediatria de todo o país.

SBP NOTÍCIAS – Quais dicas o senhor dá para os residentes que pretendem fazer o TEP seriado?

Dr. Eduardo Jorge – A principal orientação é que os residentes efetivamente se submetam ao TEP Seriado como forma para acompanhar seu rendimento, com a grande vantagem de que, ao invés de realizarem uma prova única, terão a oportunidade de demonstrar e monitorar seu conhecimento em três momentos diferentes do seu treinamento.

SBP NOTÍCIAS – O que ainda precisa melhorar em relação à qualidade do ensino médico no Brasil?

Dr. Eduardo Jorge – Estamos assistindo, com muita preocupação, a multiplicação do número de escolas médicas no Brasil, sem uma atenção maior à qualidade da formação, em especial com os cenários práticos para treinamento. Em relação à pediatria, uma das áreas básicas e essenciais na formação do médico, precisamos garantir que os conteúdos sejam efetivamente discutidos na graduação e que, durante o internato, todos os cenários de prática tenham a supervisão direta do pediatra preceptor, desde a atenção primária até a terciária. A definição do conteúdo programático de pediatria pelas coordenações dos cursos de Medicina deve buscar, efetivamente, um currículo de qualidade nos conteúdos dos temas relacionados às disciplinas da saúde da criança e do adolescente.

SBP NOTÍCIAS – Como o senhor avalia o papel dos programas de residência em pediatria para a melhoria da qualidade do atendimento a crianças e adolescentes no Brasil?

Dr. Eduardo Jorge – Esta luta da SBP pela qualificação dos Programas de Residência Médica em Pediatria vem sendo encampada com prioridade há mais de 15 anos por sucessivos presidentes da nossa entidade e assumida, de forma efetiva, pela nossa atual presidente. O papel da SBP será sempre de apoiar os diversos programas do País, com as suas forças e limites, para que possamos dentro de uma cooperação entre serviços, uniformizar na medida do possível a qualidade dessa formação. A realização do TEP Seriado, a participação em diversos seminários e a criação de uma rede regional com coordenadores, que permitam chegar próximo de cada Programa nos diversos estados do País, têm sido o caminho traçado pela SBP para contribuir com o preparo jovem pediatra. Não há dúvida, entretanto, que precisamos avançar muito mais neste papel e aprofundar essa discussão.

Texto original publicado no site da SBP

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